sexta-feira, 6 de agosto de 2021

VEIAS ABERTAS NA CDD

 

CADA UM POR SI TRANSFORMA-SE COMO PODE E QUER 

O QUE FAÇO? TRANSFORMAR LUGARES, CONCEITOS E RELAÇÕES


Texto: Wellington  Moraes França

Fotografia: Adalton Pereira

 

Não tenho a pretensão de transformar pessoas.

Mas se elas querem me usar, usar minhas ferramentas, meus sistemas para mudar suas vidas, qual o problema?

Quero sim, transformar ou ainda que seja alterar relações, conceitos e lugares. Busco a harmonia do modo como se trabalha para alcançar estrelas quando a meta é alcançar satélites.

  •  Satélites do respeito para seguir educando com exemplos
  •  da trégua para cuidar melhor dos enfermos e famintos
  •  da dignidade para cuidar da própria honra
  •  da alegria para cuidar das crianças
  •  Do foco para empreender inovações 

DE DÉCADAS EM DÉCADAS O VELHO TIGRE TRASNFORMA E TRASBORDA DRAGÕES

Em 1957 nasci neste rico planeta azul repleto de miséria

Em 1977 – Centro Social Urbano, Grupo de Teatro Perspectiva, primeiro exame de faixa de karate batizado por Mestre de Jiu-jítsu : Oswaldo Fadda, meu primeiro torneio de Xadrez e o I Festival de MPB.

Em 1987 fundamos o Clube de Lutas e Estudos de Artes Marciais TAIDOKAN

Em 1997 fechamos a cortina de nossa melhor cena e nos dispersamos. Fui cuidar de meu filho.

O ano 2017. Tempo encontrado para mostrar nossas patentes.

Com exemplar coordenação local da Professora Cleonice Dias mediando esforços entre CEACC, Comitê Comunitário e a Cientista Política Sonia Fleury (e outros atores institucionais externos) o lançamento das bases para a construção do Dicionário de Favelas Marielle Franco onde produzimos e publicamos os verbetes Mutirão da Laje - Autoria do Arte Educador Pablo das Oliveiras; Drogas na Cidade de Deus da Professora Doutora Maria de Lourdes da Silva;  Movimento Associativista de Base Comunitária, de minha autoria e o Dicionário Popular dos Lugares da CDD, por mim pesquisado e organizado.

Não abri mão de posicionar nossa marca TAIDOKAN no campo das lutas marciais do mesmo modo que não abri mão de manter o sonho da REVISTA NÓS no corpo e em campo literário.

Nossas medalhas-MEMÓRIAS são melhores do que as medalhas de latão-acobertadas de ouro, prata ou bronze, fornecidas pelo marketing de fachada.

Tornamo-nos centralidades periféricas quando, a partir da CDD demonstramos capacidade de produzir conhecimento e diagnósticos sociais com ou sem a chancela das academias.

E o domínio do conhecimento científico e sua aplicação (tecnologia) é nossa melhor medalha.

Aprendo desde sempre que é preciso fazer com que todas as iniciativas tenham  desdobramentos. Que sejam consequentes.

Talvez então tenha no movimento que se segue ao Sarau Poesia de Esquina um pouco do DNA da Revista Nós.

Assim como no Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá - JAAJ recebe e replica o bastão do combativo Jornal O Amanhã da Cdd dos anos oitenta.

Do mesmo modo – e com o máximo respeito – O Grupo de Teatro Raiz da Liberdade ilumina com sua energia máster os gigantes: Corredor Cultural Obassylene! e Os Arteiros.

E a Casa de Cultura Cidade de Deus se faz presente como ícone Memorial do lendário padre Holandês do e no Brasil, Julio Groten.

Assim como o  CEACC – Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania faz ressurgir das cinzas o grandioso COMOCIDE do Embaixador dos Excluídos, João Batista dos Santos que cede seu nome em sua memória ao CIEP que marca de vez nossa história exemplarmente olhando de frente para brutal e glamorosa Cidade de Deus de Todas as Mulheres e Homens do mal e do bom ser político.

 



I Encontro do Conselho Editorial do Jornal O Amanhã 

 Produção do!º Festival de MPB no CSU.

( Fotografias de Adalton Pereira).

sábado, 7 de setembro de 2019

A PRODUÇÃO LITERÁRIA NA CIDADE DE DEUS E SUAS MEMÓRIAS HISTÓRICAS




Sobre Museus


Estudos sobre museus indicam que a sua origem decorre do ato de colecionar, motivado pelo desejo da humanidade fixar materialmente o passado para a melhor compreender o presente.

Museologia Contemporânea 


Com a Nova Museologia (meados do século XX), os museus passam a desenvolver ações de caráter político e social que implicam na forma de exprimir a realidade das comunidades representadas, atribuindo-lhes o poder de escolha e seleção sobre que coisas as representam.

A Libertação de Memorias Históricas com Produção Literária


Em 2016 a FLUP PENSA (Festa Literária Internacional das Periferias + Formação de novos escritores) realiza uma edição na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O mote, produzir em HQ (Histórias em Quadrinhos) um livro com narrativas de moradores locais com memórias retratando no livro uma linha de tempo desde o mito de ocupação nos idos de 1966 até seus dias atuais para celebrar seus cinquenta anos de fundação.
Na ocasião é feito simultaneamente uma exposição em painéis com parte das histórias escolhidas junto com fotografias antigas pertencente ao acervo de memórias da Casa de Cultura Cidade de Deus, organização civil que tem como missão contribuir por meio de ações desta natureza a transformação do lugar.
Tal coleção está sendo objeto de planejamento para a realização de uma exposição com pré lançamento previsto para 29 de Setembro e lançamento aberto ao público à partir de Outubro na Casa de Cultura Cidade de Deus.

Além da EXPO MEMORIAL CDD – Lutas, Conquistas, Desafios e Inovações em HQ, teremos rodas de conversa sobre a produção literária dos moradores e ex-moradores da comunidade compondo o que poderá vir a ser o Circuito CdD de Literatura.




sexta-feira, 5 de julho de 2019

ENTRE "TEMPORAIS & "ABISMOS: A PASSAGEM PARA O TERCEIRO LIVRO


DESEJOS PASSADOS E PRESENTES
E o futuro? A nós pertence!

Wellington de Moraes França

"Enquanto os outros não chegam, vamos chegando. Esse momento será especial, pois será o encontro das experiencias de campo narradas como poeta, idealizador do GRUPO CULTURAL PROJETO e da REVISTA NÓS. Autor de TEMPORAIS - 2010 e ABISMOS - Esquina Editorial - 2019. Pesquisador sobre Teatro do Invisível,  gestor em organizações não governamentais. As mesas virtuais ou presenciais aqui mediadas por todos e todas que assim o quiserem. E o tema (simbólico, talvez, somente meu, quem sabe), será Estética das centralidades periféricas nas palavras, imagens e gestos. Cada um com seu trabalho e expertise. Temos muitos lugares. Da literatura artística às artes marciais. Narrativas que traçam via cruces e liberdade, levaremos para nossas moradas um pouquinho da invenção desses processos:
O INVENTO: Sarau Poesia de Esquina na Cidade de Deus - O QUE PROVOCOU O TRABALHO, Lançamento do livro de poemas TEMPORAIS."

O recorte na introdução é um exercício ficcional, uma janela para reflexão sobre o trajeto entre os lançamentos de: "TEMPORAIS" (2010); Sarau Poesia de Esquina (2011) e o lançamento de "ABISMOS" - (2019).

AS FERRAMENTAS DO SARAU
  • Redes sociais
  • Fanzine
  • Poemas
  • Um bar com equipamento de som, e depois 
  • uma caixa de som amplificada (comprada pela Viviane de Sales com suas economias pós viagem aos Estados Unidos. Caixa carregada, ora com dor, ora alma, nos ombros, mas no peito, esperança.
Evento comemorativo de cinco anos de lançamento do sarau Poesia de Esquina - 2016.

 PARCERIAS QUE CONTRIBUÍRAM: 

Tanto para o lançamento de TEMPORAIS quanto para POESIA DE ESQUINA foram muitos amigos. 

Amigos poetas, artistas e músicos, cineastas (destaque em memória ao Julio Peckly) Produtores culturais da comunidade e de outros territórios; empreendedores e várias ONGs de base comunitária na Cidade de Deus.


DESAFIOS PÓS "TEMPORAIS" AO POESIA DE ESQUINA em 2011

  • Criar uma produtora de eventos
  • Participar de editais e inscrever projetos nas leis de incentivo
  • Lançar livros dos poetas frequentadores do Sarau do POESIA DE ESQUINA

O projeto para criar uma produtora de eventos ficou num arquivo temporário perto da pasta de reciclagem de meu notebook, mas a Super Vivi de Sales criou a Esquina Editorial 

Lançamento de "Abismos" Editora & Autor -2019

"E o que mudou em sua maneira de se colocar diante da vida?" perguntou certa vez Numa Ciro num exercício preparatório para uma mesa na Universidade das Quebradas, sobre a cena literária carioca quando estávamos no auge do sarau Poesia de Esquina.

Sempre fui um ativista radical. Consigo agora ver as pessoas com maior atenção e cuidado (vez em quando tropeço, claro, sou humano, não sou perfeito nem feito de ferro).

O Sarau Poesia de Esquina demonstra que até podemos ser objeto de estudo de pesquisa acadêmica. Mas que sempre seremos cada vez mais protagonistas de nossa própria história e das mudanças que realizamos, tentando de um jeito divertido e com muito mais suavidade.

 A proposta é expandir a discussão para que todos voltem aos seus campos, de pesquisa e trabalho, com vontade de continuar inventando novos caminhos.

Com essa postura, mas sem fazer alarde, fui me aninhando na Casa de Cultura. Fui acolhido sem as frescuras da formalidade burguesa que muitas vezes repetimos sem saber ou perceber, que não são nossas. Acabo então mergulhado em atas, estatutos, editais e atos formais.

Café Literário na Casa de Cultura Cidade de Deus

Crio raízes se preciso arejar a terra. Por vezes inclino-me como bambu diante das tempestades para voltar renovado refletindo sobre a vida que vem e vai.

E de quando em vez, corto as raízes para voltar a navegar como navegam nossos ancestrais dos brasis antes do Brasil das cruzes e Cruzes. Navegando com as águas doces dos lagos e rios. Ou entre as misteriosas e costeiras ondas atlânticas.

Curto trem desde a infância. Mas sempre que entro num, acabo tomado pelo poder de estar na locomotiva. Nunca me foi dado o prazer de ser simples passageiro, que entra e sai, como simples viajante, que quando está pode se dar o luxo de olhar a paisagem como se estivesse sempre em velocidade de cruzeiro. Se ficar parado, em mim colidem. Se seguir sem ver sinais, atropelo amputando vidas. Breca-se repentino, descarrilha. Se pulo fora e ninguém assume... talvez, só talvez, o mundo se transforme.

Tenho tanto respeito por velhos como eu que planta tâmaras ainda que não tenha existência para colhê-las, quanto por quem tem fome de tudo e de fé e venhamos e convenhamos, plantar com fome, só monges do Tibe.
Não me importo se com quem prefere repetir as verdades dos outros. Quanto a mim, vou tentando aprender fazer pão e parti-los e reparti-los, não com lâminas frias de espadas, mas sim, com mãos calejadas As mãos quentes de quem trabalha.

Na dúvida, volto para meu solitário barquinho à remo. Mas se quiserem, tem mais remos e lugar.

TERCEIRO LIVRO

Penso que seria prematuro anunciar detalhes do próximo livro. No entanto, aprecio registrar alguns comentários.
O primeiro livro, "Temporais" tem aspectos que se aproximam parcialmente de uma autobiografia. Recortam algumas de minhas experiências de vida da infância à maturidade. O título faz referência à enchente de 1996 que me transborda de Vigário Geral para a Cidade de Deus. O título do segundo, "Abismos" nos remete aos seres de luz própria que vivem no fundo das fendas dos oceanos. Uma metáfora aos que sobrevivem nos submundos das noites nos subúrbios e favelas cariocas.
O terceiro livro continuará com poemas que contam histórias ou reflexões exercitando comparações e paralelos na vida com os movimentos cósmicos.


quinta-feira, 20 de junho de 2019

ECONOMIA CRIATIVA & SOLIDÁRIA - Um estudo de Caso


ECONOMIA SOLIDÁRIA E CRIATIVA APLICADA 


Da Revista Nós nos anos setenta à ABISMOS, 2019.

Pode ser um equivoco afirmar que economia criativa e solidária sejam duas faces de uma mesma moeda, ainda mais complicado acreditar que sejam sinônimos.
Cada uma delas tem origens e motes distintos e em alguns pontos pode-se até encontrar indícios de algumas contradições.
Igualmente equivocada a tendência de alguns setores da economia solidária, senão a maioria, radicalizar e excluir alguns princípios básicos da economia criativa.
Assim como também, observo que se a galera que promove a economia criativa não inclui em seus fundamentos a economia solidária, corre o risco de morrer na praia.
Um bom exemplo de uma ação positiva da economia criativa é o reconhecimento e incentivo à pratica de criar sinapses sociais, ou seja, numa reunião entre pessoas que não se conhecem alguém estimular que cada um se apresente com suas experiências profissionais ou de vida de tal forma que desperte o interesse de trocarem informações entre si formando rede criando espontaneamente.
Venho trabalhando na perspectiva de que podemos sim produzir o desenvolvimento coletivo sem abrir mão da promoção do valor individual de cada agente deste processo, seja na sua expertise, seja na sua capacidade de articulação estratégica de produção em escala a curto, médio e longo prazo.
Assim foi nos anos setenta e oitenta com o movimento cultural promovido pela REVISTA NÓS (da Cidade de Deus, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro) e posteriormente com o lançamento de meu primeiro livro autoral, TEMPORAIS pela CBJE em outubro de 2010 e que finalmente serviu de start para o Movimento Poesia de Esquina do qual resulta a criação da Esquina Editorial e a partir dela uma significativa produção editorial: a Coletânea com textos de poetas frequentadores do Sarau de mesmo nome, do livro: OS SENTIDOS de Edson Veoca; A VIDA É UM POEMA de Anahiyde Muniz (Dona Tuca) e ABISMOS de minha autoria.
Nas três ações apresentadas tivemos a aplicação de princípios da economia criativa e solidária.




domingo, 19 de maio de 2019

OS CAMPOS DE PESQUISA PARA A ESCRITA DE ABISMOS


Uma metrópole vista do alto assemelha-se grande oceano de concreto, aço, vidro e e asfalto.
Entre seus prédios, fendas abissais.



Abismos nos quais residem seres de luz própria porém escondidas entre seus próprios dejetos  e desejos.
O campo de pesquisa para escrever e desenvolver os poemas do livro Abismos foi o complexo conjunto das periferias urbanas do Rio e Grande Rio. Mais que circular entre becos do Centro e vielas das favelas, fui permanecer em seus, talvez, mais democráticos centros de concentração humana para escutar músicas como DJ anônimo, afinar ou desatinar cantigas nos videoskês, levar um papo trivial à mesa ou acotovelado nos balcões. Vez por outra curtindo uma meia porção de carne assada mas sempre degustando a cerveja de minha marca predileta. Homens em volta de uma ou duas mesas repletas de litrões de badaladas marcas, exibem suas protuberâncias abdominais avantajadas - preferem apelidar de excesso de gostosuras - camisas ao ombro, devoram com olhos e gestos mulheres que usam e abusam de seus talentos sedutores na voz, no corpo e no ato de caminhar ou dançar. Cães entram com desenvoltura. Esculachados ou afagados, sempre voltam. Homens, mulheres e crianças que dormem sob marquises ou bancos da praça, catam no asfalto, guimbas de cigarro e farelos de crac. Pedem para clientes do bar dinheiro para jogarem nas máquina de jogos de azar ditas, "caça níqueis" ou para pagarem algum sagado. Eventualmente pegam encomendas de produtos exclusivos das “bocas”. A prostituição, as vezes ocasional, às vezes permanente.
Um poeta quase sempre solitário, descreve as entrelinhas das almas expostas nestes bares cosmopolitas em papel que embalam pacotes de cigarro.
Estes locais que podem deixar o inferno de Dante no Chinelo, tem seres de luz própria e muita oração poética que liberta.