quinta-feira, 9 de abril de 2015

TV FRANCESA NA CASA DE CULTURA CIDADE DE DEUS GRAVA MATÉRIA SOBRE OFICINA LITERÁRIA INFANTIL



Wellington França

Dando um papo do que rolou antes:

A produção da TV FRANCESA ligou para o Paulo Lins pedindo sua ajuda para produzir uma matéria sobre oficinas literárias com crianças. Paulo, autor do livro Cidade de Deus, no exterior, indicou seu amigo Edson Veocca, poeta que já morou na CDD e faz parte do Coletivo Poesia de Esquina.
Edson me telefona pedindo para realizar uma oficina com as crianças do sarau e a gravação da matéria com  Aude, jornalista da TV FRANCESA na Casa de Cultura. Após algumas negociações e muitos E-mails, tivemos assim o grande momento na ensolarada manhã outonal do sábado, 14 de março de 2015.
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ENTREVISTAS, OFICINA E ...

Chega a artista octogenária D. Tuca. Deu um dedo de prosa, marcou um dez e meteu o pé dizendo que voltaria mais tarde.
Edson Veocca, em seguida, bem humorado se apresenta e segue para a cozinha fazer o café.

A educadora Clezenilda entra conduzindo a tropa de 12 meninas de 6 à 14 anos e uma penca de livros, papel ofício, cadernos, lápis e páginas e mais páginas  de poesia.

Escaldando copos e talheres, quebro uma pequenina xícara. Corro em busca de pá, vassoura e pano de chão.
Aude, a jornalista e sua assistente chegam como que paralisando o tempo.
Loucura geral: crianças freneticamente comendo, copos de guaraná caindo. Eu, Veocca e Cleo limpando e tentando organizar o birimbolo ao mesmo tempo atentos à repórter mais empolgada com  as crianças e filmá-las do que conosco.
As duas lindas francesas logo se sentem em casa. Misturam-se com as meninas que preferem se espalhar e se esparramar nos degraus e bancos do jardim do meio. Outras garimpam curiosas, livros de poesia na biblioteca.

Eu e o Veocca trocamos, aliviados, olhar cúmplice de um temor comum de último momento: o pouco que sei de francês ainda não dá para uma boa conversa e parece que o Edson está no mesmo barco. 

Havia implícito um entendimento que me caberia falar sobre a Casa de Cultura. Edson ficaria bem contando sobre o Sarau Poesia de Esquina e do premio Ações Locais cujo projeto contempla a produção de oficinas literárias. Clezenilda responderia pelas crianças do Sarau e o Nélio pelas oficinas que aplica. Não rolou. Mesmo com nossas mentes sob controle algumas dinâmicas inesperadas da vida nos tornam, de velhos autores e atores em grandes e abobalhados expectadores ou torcedores.
Cléo me pede ajuda para ficar atento aos acessos da casa e às 12 crianças peritas na arte da invisibilidade, temendo sumiços e precavendo acidentes.

Aude, logo toma iniciativa de entrevistar o Veocca, depois se debruça sobre os grupos de meninas ocupadas e muito sérias em suas anotações. Câmara ao ombro; assistente e fiel escudeira ao lado, a simpática e também francesinha moradora do Rio.
Clezenilda, abraçada numa cadeira, anda de um lado para o outro procurando um lugar para acomodar a atriz, pintora, sambista, poeta e compositora, D. Tuca,  incomodada ora com o sol, ora com as folhas da árvore.


Nélio, filmado, dando explicações, respondendo perguntas das crianças e toma-lhe entrevista.

Neste instante o que vejo é que são as crianças que promovem a oficina e que a Aude da TV é dona absoluta da pauta (o óbvio que já tínhamos previsto). Segue, assim, seu próprio roteiro.

Subo ao terceiro andar. Almofadas voam amparadas pelas crianças que ajudam arrumar o salão versátil (misto de auditório, academia de danças e lutas). Cadeiras em semicírculo; colchonetes pelo chão. 


Velho biongo oriental vira cenário. No palco de faz-de-conta o microfone com fio ligado em lugar nenhum.
Peço ao pé de ouvido à Cléo (a super avó da super poderosa dupla Bia e Duda), que proponha  um sarau infantil.  Ela então anuncia: 

“Vamos fazer um sarau igual ao do Poesia de Esquina!” 
Supervisiono a subida nas escadas. Livram-se dos chinelos, mas não desgrudam dos seus papeis (nos dois sentidos).

“Sarau infantil organizado pela criançada!” pondero.  E com essa palavra de ordem sem ordem, dão o jeito delas. Rapidinho uma menina muito séria, papel e caderno em punho, faz as inscrições. Falo ao Hibrido que fique por perto para atender o chamado de ser apresentador caso as meninas assim o decidam. A mocinha da lista, Beatriz Fernanda, logo o convoca para a missão.
Ana Beatriz, poeta, bailarina, neta da Clezenilda e do falecido Pastor Brasil, filha da Letícia, câmara em punho grava tudo, e depois, fala poesia.

Recitam de todas as maneiras. Lendo ou de memória.  Improvisam quando a mente foge. Tocam as letrinhas em volumes dos quase inaudíveis aos mais eloquentes e impostados.  Dos tons quase indecifráveis aos mais melodiosos. E nós adultos, que fomos para ensinar e falar delas, entendendo tudo de corpo e alma. Alguns olhos marejam. Muitos aplausos. E como gostam de palco essas gurias!

Um desfile completo de moda e arte. Tem até A Vitória, irmã da Alicia, sósia em miniatura da Gisele Bündchen!
Misto contra-regra e diretor ,encerro o evento, pedindo ao Hibrido  ( o cara é  Pastor, pai da recém-nascida  Lua;  esposo de bailarina Rayra, apresentador revelação do ano do sarau Poesia de Esquina e cantor de Hip Hop!) que feche o programa cantando.  Escolhe, “Palavras tem Poder”, de sua autoria e canta à capela, finalizando com estilo e muitos aplausos.
E quando penso que tudo acabou, vem a Clezenilda declarando em desespero um fato trágico: Uma pré-adolescente ficou fora da lista e não se apresentou!


A Platéia, em coro, reivindica a reabertura do sarau.
Alguém dialoga com a mocinha pedindo que se apresente. Revoltada, Letícia Larissa reluta um pouco, mas não resiste. Sorri e finalmente, declama seu poema.

No meio de tudo, lembro-me de Dona Tuca. Sumiu! Mas depois apareceu linda, esquentando a galera do Sarau (não este, o outro no Bar Tom Zé) Mas esta já é outra prosa.